“Oiiii! Você aííi! Para! Ela tá te chamando!!!”
As pessoas tentavam de todas as formas me ajudar. Chamavam, gritavam, mas ela não respondia. Não tinha como responder porque simplesmente não ouvia. As pessoas insistiam. Não sabiam que ela era surda. Era em vão!
Eu estava com minhas mães (mãe-vó e mãe-irmã) num bar. Quando fui acompanhar minha mãe mais velha ao banheiro, Elenita (mãe-irmã) se afastou e comecei a correr atrás dela. Foi aí que várias pessoas que estavam no bar começaram a chamá-la. Avisei que ela era surda e não adiantaria gritar. Ela só se comunicava através de LIBRAS.
De repente surgiu um grupo de umas cinco pessoas na rua. Estava chovendo e elas dançavam na chuva e pareciam se divertir muito. Muitos de nós os chamariam de “loucos”, os ditos loucos de nossa sociedade.
Elenita começou a dançar com eles. Eu continuava tentando me aproximar para levá-la pra casa. Chegava bem perto, mas parecia não alcançá-la. Era uma estranha sensação de estar bem próximo, mas sem conseguir chegar perto o bastante.
Foi então que decidi começar a dançar também, experimentar essa “liberdade” que os “loucos” têm, e de forma “mágica” consegui me aproximar o suficiente para convencê-la a ir embora comigo. Não antes de tb me divertir dançando na chuva!!!
Não, isso não aconteceu de verdade! Foi um sonho muito especial que tive essa semana. Mas que diferença isso faz?
É estranho como ao mesmo tempo em que os “loucos” parecem estar “aprisionados” em outro mundo, experimentam uma “liberdade” que às vezes invejo. Parece que a vida, os sonhos, o dia a dia nos dão sinais de que existem várias formas de nos comunicarmos.
E Elenita não “falava” somente LIBRAS, também se expressava de diversas outras formas.
Hoje me dou conta de que muitas vezes utilizei diferentes formas de me comunicar com ela. Me sinto filha da “razão” e da “loucura”. E não me sinto melhor, nem pior por isso, me sinto única, como somos todos nós. Parecidos e únicos, e isso é lindo!!!
E “que a loucura seja respeitada”, pq a loucura é uma, dentre tantas possibilidades do humano ser e estar no mundo. Respeito por todas as possibilidades!!!
No fim das contas acho que sou uma boa “filha das mães”!

